Quem de nós


E acaba que as coisas se ajeitam. Você vira, revira e no fim acalma o peito. Não é nenhum desabafo, muito menos uma catarse. Estas palavras assemelham-se mais a um diálogo com a vida do que um escarro contra ela. E você achando que era esperto. Sagaz foi ela que com muita destreza deu a rasteira. E por mais clichê que pareça, quando se está lá em cima, meu amigo, ah, o tombo é feio. Hei, hei, não vá achando que vou começar agora um texto dramático. Não, não, o ensaio sobre quedas termina por aqui. Entretanto, o problema nem é a queda, mas a perda do caminho quando se levanta. Aí você nega, diz que “não, não, está tudo bem”. E segue mais do que perdido. O tempo passa (assustadoramente rápido às vezes) e você começa a desvendar os atalhos e torna-se íntimo das vielas. Consequentemente você encontra e conhece inúmeras pessoas pelo caminho e começa a se dar conta do tempo que perdeu. Conhece, inclusive, aquelas que estavam em você mesmo. Em certos momentos tem-se uma impressão de que você já conhecia todas essas coisas novas, todas as pessoas, todas aquelas que "descobriu" em você. É uma espécie de reconhecimento, um tipo de deja vu. E você até entende que o antes e o agora são coisas completamente diferentes, mas não consegue evitar a comparação. E percebe, no fim, como está mudado. Na verdade, você não entende merda nenhuma do que aconteceu. Mas, o prioritário é você conhecer a si mesmo, saber no que se transformou ou naquilo que tem para transformar-se. Quanto mais irreconhecível e ao mesmo tempo você mesmo melhor.




Comentários

  1. éé com o tempo a gente vai aprendendo sobre a continuidade da vida. vamos envelhecendo e a vocação pra suícida vai sendo deixada de lado, deixamos de lado expressões do tipo nãovouresistir e adotamos as euseiquevaipassar, porque no final das contas é isso, o antes passa, o agora passa e sabe-se lá o que que fica dessa coisa toda ...

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  2. São duas vias para "...e no fim acalma o peito." A gente vai acostumando a calar, vai se acomodando na poltrona até que um dia nada ou ninguém nos tire de lá, até que não se saiba mais o que é poltrona e o que somos nós. Até que não faça diferença.

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  3. Muito bom o texto!
    Fácil de se identificar também...
    E sempre belas as fotos ali da coluna ao lado.

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