Me dá saudade

                                                    Praça Balthazar de Bem

O melhor de voltar a Cachoeira é chegar na rodoviária, descer do ônibus e fazer o caminho até em casa a pé. O melhor de voltar a Cachoeira é acordar com o sol mais alto no outro dia e ouvir a rádio local enquanto tomo café na cozinha. O melhor de voltar a Cachoeira é sentar na frente da Matriz domingo à tarde, com as costas para ela e defronte ao Château d'Eau; e “enquanto invento aqui pra mim um silêncio sem fim”, sobre as escadas que dão acesso à Catedral, as palmeiras Washigtonianas da década de 30 “inventam um ballet”, circundando o nosso “Castelo d'Água” sob o olhar atento de Netuno.

O melhor de voltar a Cachoeira é, depois de tomado aquele café da manhã e ter escutado as notícias no radinho de pilha, sair caminhando sem um rumo certo pela cidade; descer a Júlio e, lá no fim, dobrar a esquina e chegar na Sete; e mais adiante sentar nos bancos do canteiro central da Bonifácio. E “quando eu ando pela Sete e o sol começa a esquentar, o riso ciranda o rosto quando eu começo a me lembrar”. O melhor de voltar a Cachoeira é, nessas caminhadas, juntar algumas reminiscências nas calçadas e ir reagrupando em mim os vários pedaços que deixei por aqui. E não é que “revirando algumas fotos e lembrando de algum tempo que passou, me peguei rindo sozinho da minha própria solidão”. 

O melhor de voltar a cachoeira é descer a Moron e sentir o ar gélido das águas do Jacuí, ao mesmo tempo em que o céu escurece. O melhor de voltar a Cachoeira é reencontrar todos os verdadeiros amigos, tomar um chimarrão à tarde e acabar em algum boteco ao fim da noite. E “me dá saudade, saudade de ser cabeludo e do casaco de veludo que eu ganhei da minha vó”.
O melhor de voltar a Cachoeira é saber que os laços da amizade ficam cada vez mais fortes. O melhor de tudo ao voltar para Cachoeira é saber, quando vou embora, que estou repleto de nós.

Contribuições involuntárias:

Me dá saudade - Pepe Fontanari

Telhados de Paris - Nei Lisboa