Das inutilidades...






ELE: Deixa eu ver... Hum... Misto-quente... hum... Quiche... Não, quiche não. (analisando e sublinhando com o dedo as opções do cardápio seguro na mão)
ELA: Tu não respondeu minha pergunta. (batendo os dedos alternadamente na mesa)
ELE: Tá, eu sei, mas espera aí. Deixa eu escolher alguma coisa primeiro.
ELA: Tá, mas tu pode responder minha pergunta enquanto escolhe, ou responder antes de escolher. (indicando com a cabeça o outro cardápio sobre a mesa à sua frente)
ELE: Calma, nossa! Que coisa, tô com fome.
ELA: (cruza os braços e escora-se na cadeira)
ELE: Aqui! Acho que essa empada de frango, requeijão e tomate seco cairia bem. É, acho que sim.
ELA: (olha diagonalmente para o teto)
ELE: Não vai comer nada?
ELA: (faz um não com a cabeça, ainda olhando diagonalmente para o teto)
ELE: Esse sanduíche quente deles é bom hein, já comi.
ELA: Comigo que não foi. (voltando o olhar para ele)
ELE: Bom, tu que sabe. (fazendo um sinal de resignação com as mãos e a cabeça inclinada para o lado)
ELA: Agora pode me responder?
ELE: Responder o quê?
ELA: (inspira profundamente ao mesmo tempo em que expele uma risada abafada e descruza os braços) Se ainda quer continuar. Porque o nosso namoro não é mais o mesmo e tu sabe disso. Sabe que isso tá uma merda. Tu sabe. Tá parecendo que tu não quer, não tá nem aí. Quando a gente tá junto parece por obrigação. Quando a gente se vê é sempre um mais emburrado que o outro. Então, se não quer continuar, quero saber porque ainda tá comigo.
ELE: Tá, mas tu quer saber se eu ainda quero continuar ou porque ainda tô contigo?
ELA: Ai... (fechando os olhos e soltando os ombros)
ELE: Ué, tu me fez duas perguntas, quero saber qual é mais prioritária.
ELA: Aquela que tu achar melhor.
ELE: Bá, mas que impaciência. Tá na TPM?
ELA: (lança um olhar incrédulo com a cabeça levemente baixa e com os olhos ao ponto de tocarem nas sobrancelhas) Não, não tô na TPM.
ELE: Bá, sei lá. Eu sei que tá ruim, não é que nem era antes... (gesticulando)
ELA: Não é mesmo. Porque olha só, se tu estiver comigo só por acomodação, não dá. Não dá mais...
ELE: Hei, psiu, garçom, garçom... (fazendo sinal para o garçom não muito distante)
ELA: Não dá. (inspira, balançando a cabeça e cruzando os braços novamente)
ELE: Hã, por favor, esse croissant de frango e ricota. (entregando o cardápio ao garçom) Pode ser sem palmito. E, hã, acho que um mocaccino. Beleza. Pra ela? Ela não vai querer nada.
ELA: Vou querer sim.
ELE: (escora-se na cadeira, rindo e cruzando os braços)
ELA: Hã, um pedaço dessa torta de nozes, obrigada. (sorri, entregando o cardápio ao garçom) Não, para beber não quero nada. Não ia pegar uma empada de não sei o quê? (inclinando-se para frente e olhando para ele com as sobrancelhas levantadas)
ELE: Achei que tivesse de jejum? (inclinando-se para frente e apoiando os cotovelos na mesa, levantando uma das sobrancelhas e abaixando a outra)
ELA: Mudei de ideia.
ELE: Eu também.
[…]
ELE: Tipo, nós fazíamos as coisas juntos porque queríamos estar juntos, conversávamos e tal. Ríamos bastante. Eu sei, sim, eu sei. Não tá legal. Mas, eu tento. Agora, parece que um não pode ser feliz sem o outro. Tô tentando fazer algo, mas não dá. Quando eu busco uma inovação, sei lá, quando tô feliz e tento te alegrar, pra ver se dou um ânimo, tu sempre te esquiva... (mexendo na colher do açucareiro)
ELA: E vice-versa... (olhando pela janela)
ELE: Parece que temos um orgulho sei lá do que, de manter essa compostura de nunca se alegrar com a alegria do outro. Tá, tudo bem, até posso fazer o mesmo. Mas e tu? Quer continuar? Não quer? Tu que falou que queria conversar.
ELA: Ah, sei lá, é que eu não tô feliz assim. Sério, não tô mesmo. Queria saber se a gente podia resolver as coisas ou sei lá, ver qual é o nosso problema. Tenho a minha culpa eu sei.
[…]
ELE: Mas, ah, um relacionamento sempre tem crise.
ELA: Como assim sempre tem crise?
ELE: Ah, sempre tem crise, oras. Seus momentos ruins. Sei lá, onde cada um pensa mais sobre si.
ELA: Tá, então tu tá pensando mais sobre ti?
ELE: Ai, também não é isso. Quero dizer que às vezes nos acostumamos com a outra pessoa, como uma coisa normal na vida, algo muito comum. Esquecemos um pouco dessa pessoa e tentamos lembrar mais de nós mesmos.
ELA: Bom, tu disse a mesma coisa. Então, sim, me esqueceu e tá pensando mais em ti.
ELE: Ah, não é isso. Não tô falando de mim e de ti em específico, tô falando no geral.
ELA: Tá, mas eu quero saber de nós. Não vim ouvir nenhuma teoria sobre os relacionamentos, esquecimentos e a puta que pariu. (balançando energicamente a cabeça)
ELE: Tá, tá, se não veio ouvir, então, fala o que tu acha sobre isso tudo (fazendo um gesto de não entendimento com as duas mãos).
[…]
ELA: (com os olhos marejados) E tem esse ciúmes ridículo também...
ELE: Ah! Isso aí é dos dois, não é só meu.
ELA: Sim, eu sei.
ELE: E o sexo também tá uma bosta, né.
ELA: É consequência.
ELE: O que a gente faz?
ELA: Não sei. (passa as mãos sob os olhos)
[…]
ELE: A gente pode dar um tempo. Pra sei lá, pensar.
ELA: (contraindo os lábios faz um sim com a cabeça)
ELE: (olha pela janela)
ELA: (levanta-se)
ELE: (olha para ela)
ELA: (dirige-se à saída)
ELE: (ainda na mesa) Oi? Não, mocaccino, torta e croissant? Acho que não foi aqui, não. Já tava de saída. (olha, através da janela, para ela que atravessa a rua, levanta-se, arruma a sua cadeira e a dela, dirige-se à saída)



Comentários

  1. Quem não se identificou que jogue a primeira pedra!

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  2. Gostei do blog e das postagens.Tu escreve bem á beça. voltarei sempre !
    Abraços :)

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  3. ;o)) Que jogue a primeira estrela quem nunca foi escuridão.
    Petrah.
    PS. Saudades do teu sol-riso.

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