Minha Literatura



Minha literatura não é prosa nem poesia. Não é nada que justifique a falta ou a beleza da vida. Os bardos que me desculpem, mas minha literatura não é épica, muito menos clássica, romântica, simbolista, parnasiana, barroca ou realista. Perdoem-me os modernistas e os naturalistas, mas minha literatura não é de pertença às mesmas escolas que os fazem. Aliás, não é de escola nenhuma. Minha literatura não protesta em altos gritos, minha literatura não contesta em vozes roucas, minha literatura não tem pressa. É guardada em mim, como a sete chaves guarda-se um segredo, até o momento exato de ser parida, partida e, desse forma, partilhada. Minha literatura não reflete teu belo sorriso, minha literatura não repete tua bela canção, minha literatura, na verdade, não presta. Minha literatura é opaca, nua e crua. É criação de uma mente insana que tenta camuflar-se com beleza. Minha literatura é sangue momentâneo que encharca os olhos e escorre pelas mãos que não se deixam ver. Minha literatura não é lida, não pode ser falada e, muito menos, compreendida. Na minha literatura não há entendimento, não há métrica que sustente o ponteiro mecânico do tempo. Anjos são do mal e demônios são do bem, na minha literatura. Melhor seria dizer, na minha literatura não há moral. O sim e o não inexistem na minha literatura. Minha literatura não ressente e não consente. Por isso, basta desta minha exaurida literatura. Não a quero mais em minha palavras que escapam pelos dedos e jorram como suor esparramado. Não a quero mais no meu olhar enviesado que sempre me contraria. Não, não a quero mais! Pois na minha literatura eu sempre estou só.



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Comentários

  1. Por vezes a auto-crítica pode acabar por soar como auto-sabotagem, tenha isso em mente meu amigo.

    Sobre sua literatura, eu acredito que ela não é mais, nem menos que "isso" ela apenas é. Mas o fato de ser, por si só, já não pressupõe a magnitude da existência poética?

    Reflitamos juntos nobre poeta, reflitamos juntos nobre amigo... Acredito que o fato de nos tornarmos pensadores em processo de auto-formação, rumamos em direção a uma auto-suficiência; todavia, ainda devemos atentar que em nada inovamos, outros antes de nós já o fizeram. Patético não? Nossa liberdade, fica presa a vontade de ser livre e essa vontade na dose certa é antídoto, na dose errada é veneno.

    Eu com meu singelo ponto de vista, acredito que a sua literatura, caro poeta, não necessita ser linear, nem métrica, nem romântica; mas a crítica em suas palavras as vezes me soa sem o tempero que encontro nas demais obras. Não entenda como crítica, nem como desdenho, ao contrário, tua linguagem concisa e quase hermética me comove de tal maneira, que até se estivesse a falar de banalidades eu ficaria aqui abismado com a sua singelidade...

    Ademais é isso, sem tirar, nem pôr.

    Um Imenso abraço!

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Admirável capacidade de sorver a alma quem lê, de prender até o último suspiro. Áspero e sensível...instigante.. Obrigada. (Anônima)

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