Assim, meio Borges...




Quando de um não-sonho

Logo que acordei, a aurora,
Como uma artéria,
Pulsava nos arrabaldes distantes.
Como uma ribalta, fulgia
No proscênio do mundo.
Em cada prédio da cidade escorria
O sangue de uma ferida aberta.
O arvoredo sentia a inexatidão
Das coisas, cobertas de duas
Ou três matizes carmesins apenas.
Na realidade dormente
A doutrina Gimnosofista
Foi a única que me caiu,
Contraditoriamente, coerente.

Em seus cárceres,
Que espelham janelas dobradas,
Poucos são os homens
Avivados dessa chaga sobre o mundo.
Essa artéria, de súbito, cessa.
Mas, para quem tem os olhos de ver,
A cicatriz no horizonte é perene.


Comentários

  1. Nunca li o tal Borges, mas me agradou a vista a tua visão meio assim, meio assado... É esse vocabulário tão rebuscado que eu admiro e confesso, invejo um pouquinho...

    Até mais ver Dr. Quadros!

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  2. "Contraditoriamente, coerente." GE-NI-AL!

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